Da emergência à modernização: Os primeiros lugares turísticos de uma cidade Amazônica - HAL-SHS - Sciences de l'Homme et de la Société Accéder directement au contenu
Pré-Publication, Document De Travail Année : 2010

Da emergência à modernização: Os primeiros lugares turísticos de uma cidade Amazônica

Résumé

A mobilidade turística nos espaços amazônicos é uma prática recentente. Os primeiros relatos poderiam sugerir a sua gênese na segunda metade do século XIX. Uma efervecência de motivações ligadas a quebra do sedentarismo, a produção do exotismo e a busca da alteridade se multiplicava, principalmente com a revolução industrial que reduzia as longas viagens ao sul do equador. Se as primeiras políticas de higienismo e reforma urbana modernizavam os vilarejos, a reprodução de cidades européias em plena floresta tropical simbolizava a estratégia principal na atração da mobilidade estrangeira. No intuito de reconstituir as práticas turístico espaciais destes viajantes, centralizaremos nossa análise no processo de transformação de uma cidade amazônica cosmopolita, categorizada por muitos estrangeiros como a Paris dos Trópicos no início do século XX. Para isto iniciaremos nossa abordagem nos relatos dos primeiros viajantes europeus que revelavam a emergência das reformas urbanas de Manaus. Orientada nestes discursos a cidade vira alvo de uma política ambiciosa de modernização e higienismo. Visando construir um ambiente agradável para atrair principalmente a vinda de estrangeiros, nosso primeiro questionamento estará centrado na identificação deste visitante que justifica toda uma reforma urbana da cidade. Deste modo, quem era este estrangeiro que interessava às elites locais da belle époque? E também, porque era importante incentivar a vinda de estrangeiros para Manaus, justamente em uma época onde um grande fluxo de imigrantes nordestinos desembarcavam nos portos da cidade à procura de emprego no mercado da borracha? Uma melhor identificação deste visitante nos permitiria pensar se as políticas de modernização da cidade visava estimular o desenvolvimento dos fluxos turísticos. Este será também um ponto importante a ser compreendido ao longo deste capítulo. Percebe-se que todas as ações empreendidas pelas elites da época resultou em profundas transformações do espaço urbano. De uma simples cidade localizada a mil milhas da foz do rio Amazonas, Manaus se torna em pouco tempo símbolo do cosmopolismo no Brasil. Este fato evidencia que, mesmo em menor número, os estrangeiros em Manaus eram representativos na transformação dos lugares. Um tal processo foi possível somente em uma fase especial de sua história, quando a cidade respondia por grande parte da demanda mundial de borracha. Em paralelo a todo processo de investimentos públicos em Manaus, um progressivo aumento no número de hotéis e de visitantes acompanhava a evolução da cidade. Uma nova forma de olhar para os lugares manauaras começa à ser percebido, inserindo assim práticas específicas na capital. As transformações urbanas de Manaus serão inclusive utilizadas como estratégias de comercialização turística por parte de uma operadora inglesa logo no início do século XX. Se é da Inglaterra que o fenômeno turístico expande no mundo, seria à Manaus mais uma resultante da tradição britânica de turistificar lugares? Aprofundando ainda mais este questionamento, seria a cura, o divertimento, o reencontro e a contemplação que justificava à vinda destes turistas para a capital? Estes serão alguns dos questionamentos do capítulo. Recheados de imaginários e por uma calorosa receptividade, estes atores se distribuiam pelas ruas de Manaus na necessidade de reproduzir práticas particulares em lugares fora do cotidiano. Analisando este processo, nossa pesquisa ficará articulada nas ações destes atores do imaginário turístico em Manaus e que permitiram inserir uma nova função nos lugares da cidade ao longo do tempo. Este fato evidência uma necessidade. Seria possível diferenciar entre todos os visitantes que desembarcavam nos portos de Manaus, estes que vinham motivados para a prática turística? Ou mesmo, o que os turistas faziam em Manaus no início do século XX? Existia uma particularidade turistica em uma cidade moderna no interior da floresta Amazônica neste período ? Mesmo face à uma ausência de relatos, quais ações destes turistas permitem ilustrar que uma função turística estava em curso nos lugares manauaras? Utilizando os mapas urbanos da época, relatos, cartões postais e políticas empreendidas tentaremos reconstituir a cartografia destes lugares turísticos, assim como interpretar as práticas ali executadas. Seguindo a forma de viver os espaços de Manaus nas primeiras décadas do século XX, tentaremos destacar as diferenciações impostas pelos membros das elites manauaras e as alternativas de lazer encontradas pelas camadas populares de sua população. Um tal código de postura marca todo o processo civilizatório da cidade e que utilizaremos como estratégia para propormos uma reconstituição dos lugares para a prática do turismo na capital. Para isto nos apoiaremos em diversos autores e relatos de visitantes que estiveram em Manaus ou analisaram as relações sociais manauaras neste período. Entre eles poderiamos citar brevemente Moacir Andrade, Agnello Bittencourt, Richard Collier, Edinéia Mascarenhas, Edward Burns, Selda da Costa, Arthur Reis, Thiago de Mello, Paulo Marreiro, Otoni Mesquita, José Aldemir e Marcio Souza. A este imaginário que propomos representar visa evidênciar uma caracterização destes espaços assim como às práticas ali associadas. Percebe-se que as narrativas das viagens em Manaus evidenciavam uma necessidade constante do fenômeno turístico em encontrar novos lugares urbanos e periurbanos para estabelecer suas bases. Privilegiando esta metodologia e referências bibliográficas citadas vamos propor uma forma de leitura das inscrições espaciais passadas. Partindo do princípio que as ações empreendidas pelos diferentes atores davam vida aos lugares turísticos amazônicos, tentaremos evidenciar seu funcionamento à partir do aumento da acessibilidade e das ações empreendidas. Em consequência, o capítulo visa levantar algumas das características destes lugares para as práticas turísticas na expectativa de propor uma definição conceitual.

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Citer

Terence Keller Andrade. Da emergência à modernização: Os primeiros lugares turísticos de uma cidade Amazônica. 2010. ⟨halshs-00583789⟩
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